Já lhe aconteceu viajar para um país cuja língua não domina? O que é que faz, nessas circunstâncias, para comunicar?
E quando está a falar com uma criança e ela não consegue percebê-lo bem? O que faz nessas situações?
Com certeza que a sua resposta a estas questões foi “uso o gesto”!
Pois é! Quando comunicamos, fazemo-lo não só através das palavras que utilizamos, mas, essencialmente, através da nossa expressão facial, corporal, da entoação da nossa voz e, entre outras coisas, dos gestos que utilizamos.
Desde cedo que os gestos fazem parte da nossa comunicação. No desenvolvimento típico da criança, o aparecimento dos gestos antecede a produção das primeiras palavras, ou seja, muito antes de usarem a palavra para se expressarem, as crianças usam os gestos para comunicar, quer seja para apontar para algo que desejam e que está fora do seu alcance físico, quer seja para expressar vontades ou necessidades. Assim, o gesto surge quando as crianças sabem o que pretendem, mas não o conseguem exprimir através do uso de palavras.
O surgimento das primeiras palavras é uma aquisição muito importante na vida das crianças e das suas famílias. Quando as primeiras palavras tardam em aparecer, tal facto constitui, regra geral, um motivo de grande preocupação para os pais.
Nestas situações, o gesto pode ajudar!
Quando associamos um gesto à correspondente produção oral de uma palavra estamos a potenciar o desenvolvimento da linguagem oral e da fala na medida em que, ambas as produções – a produção do gesto e a produção da palavra – são ativadas na mesma área cerebral, logo, estimulando a produção do gesto, estamos a promover o desenvolvimento da expressão oral.
Para além disso, ao produzir um gesto e a palavra correspondente em simultâneo, a entrada da informação ocorre através de duas vias sensoriais diferentes: a visual (quando fazemos o gesto) e a auditiva (quando produzimos a palavra), o que facilita a integração do conceito na memória da criança. Não é por acaso que as músicas infantis são acompanhadas de gestos! Já pensou nisso?
Ao estimularmos uma criança com o uso de gesto e de fala em simultâneo, estamos a dar-lhe o modelo de como ela pode/deve fazer. As crianças adoram imitar outras crianças, os adultos, os animais, etc. Ao imitarem os gestos do adulto irão fazê-lo utilizando, também, o gesto e a palavra em simultâneo pois é assim que os adultos fazem!
O uso de gestos na promoção do desenvolvimento de competências comunicativo-linguísticos em crianças com perturbações da comunicação constitui, sem dúvida, uma mais valia. Há programas específicos para desenvolvimento da linguagem que assentam, precisamente, nas evidências científicas acima referidas, como é o caso do programa de linguagem do vocabulário MAKATON, o qual uso desde 2005, com resultados bastante positivos.
O medo de muito pais, quando lhes é proposto um método que assenta no uso do gesto para desenvolver as competências comunicativo-linguísticas dos seus filhos, é que estes desenvolvam uma comunicação baseada no gesto e que isso atrase a fala. Agora já sabe que, pelo contrário, isso não irá acontecer!
Têm sido realizados vários estudos que apontam para o valor preditivo da utilização dos gestos no desenvolvimento da linguagem. Há medida que a criança evolui nas suas capacidades de expressão oral, os gestos vão sendo abandonados dando lugar às palavras.
Vale a pena experimentar!
Alguma dúvida ou questão sobre este conteúdo, não hesite em contactar-me.
Catarina Rios
Terapeuta da Fala
Coach Infanto-Juvenil